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sábado, 1 de março de 2008

Um Lugarzinho no meio do nada

Autor: Pr F Netto

Inspirado em Fatos Reais

Prefacio
Este livro de memórias é inspirado em fatos reais ocorridos na infância do meu pai. Pr. F. Neto.A historia retrata uma pequena cidade chamada Viçosa do Ceará. Exatamente o lugar e as atividades contidas no dia-a-dia dele e das pessoas com as quais convivia naquela época. Desde as travessuras dos garotos, os banhos de bica e até o trabalho dos Homens nas lavouras e mulheres no dia-a-dia de donas de casa.

Jeosadaque

Boa Leitura!!!

Capitulo 1
Como diz a velha canção:Das muitas coisas do meu tempo de criança, guardo vivo na lembrança...Para mim, entre as boas coisas , guardo vivo o lugar onde nasci.Entre serras, florestas e muitas palmeiras viçosas que quando tinham suas palhas embaladas pelo vento, podia se ouvir a maravilhosa trilha sonora da natureza. E dentre todas essas palmeiras, lembro-me de uma imensa, que ficava logo atrás do nosso velho casarão que era coberto com as palhas das próprias palmeiras e por assim ser, ficavam algumas frestas no teto por onde eu podia saber da hora no meu “relógio natural”, pois quando o sagrado sol de todas as manhãs refletia nas palhas da imponente palmeira, eram 06:00 horas da manhã. E era hora de pular da cama (digo, da rede) e começar as atividades do dia. Mas, isso sempre depois de um farto café da manhã com leite fresco tirado da vaca minutos antes, ovos colhidos nos ninhos das galinhas que podíamos encontra-los até no sótão da nossa casa e ainda as maravilhosas “tapiocas nossas de todas as manhãs” que minha mãe as fazia como ninguém. Como me lembro bem desse gostoso momento familiar de todas as manhãs! Mamãe sempre dedicada defronte do seu fogão de lenha, que verdade seja dita: era um maravilhoso fogão com varias bocas e era feito com paredes de barro, com portas laterais e no seu interior era o lugar que meu pai guardava as rapaduras que eram usadas para adoçar o nosso café.
Cabia pelo menos umas 500 rapaduras douradas, produto da nossa própria plantação de cana de açucar que, devido ao calor do fogão mantinham-se em perfeito estado e não melavam com o frio do inverno. E com esse maravilhoso cenário mamãe sempre alegre, servia-nos o café. E após isso, estávamos preparados para o que nos aguardava o restante do só começado dia. Papai e os demais homens do lugar, iam cuidar dos sítios e das roças nos quais plantava de tudo: arroz, feijão milho, mandioca, jerimum, macaxeira etc... As crianças iam para o grupo escolar ou escolas que funcionavam em algumas casas da região. Levavam consigo as duas principais ferramentas de aprendizado: “A Carta de ABC e a Tabuada” e sempre preocupados em aprender e assim não levar “bolos” nas mãos por meio das palmatórias dos professores que eram “meigos” iguais a onças e só de nos olhar nos metiam medo. E o pior é que nós sabíamos que eles tinham todo apoio dos nossos pais e isso nos fazia ainda mais obedece-los. Mas passado essa parte sombria do dia, não víamos a hora de voltar pra casa já por volta das 11:30h e com pressa saborearmos geralmente o “Baião de dois” com galinha que as nossas mães já aviam preparado para o almoço. E talvez fosse essa a única hora que o grupo de quinze a vinte garotos do nosso lugar se discipava. Mas isso era por pouco tempo, pois ainda quase mastigando a comida e as nossas mães recomendando que deveríamos esperar fazer a digestão, o grupo emergia das casas e se formava de novo.
E o mais incrível era que sem líder e nem agenda, todos tinha o mesmo pensamento: “Não podemos perder tempo, pois o melhor do dia ainda está por vir”. As meninas que por incrível que pareça era minoria, em algumas atividades eram obrigadas a formarem seu próprio grupo, pois na informal agenda da tarde, estava o banho de bica, as caçadas aos passarinhos, armados com baladeiras e escaladas aos pés de mangas, jacas, cajueiros...Etc, e isso era “Coisa pra Macho” mas a principal coisa que as separavam dos garotos era o banho de bica. Pois tomávamos banho todos pelados e embora o lugar tivesse alguma semelhança com o jardim do éden, o homem já tinha pecado pelo menos a uns 5..970 anos atrás pois estávamos na década de 70 e embora nossos pais nunca em hipótese alguma falassem conosco sobre sexualidade, ensinavam que “homem não podia ver mulher tomando banho”. E mesmo sem saber o motivo de tal proibição, a menos que alguns mais espertos já soubessem, nós obedecíamos ao pé da letra e até tínhamos os exemplos de adultos que tinham apanhado e até mesmo morrido por terem sido pegos escondidos olhando mulheres tomando banho. Eu então, morria de medo disso, já pensou? Nem pensar!
Mas contando com a paciência das meninas em esperar que desocupássemos a bica para elas e demorava sei lá quanto tempo! Levando em conta que o banho era uma delicia de água mineral que jorrava no topo da serra do nosso querido sitio Graviel e que a qualquer hora do dia ou da noite podíamos bebe-la na fonte sempre na mesma temperatura. Era maravilhoso! E nós parecíamos com uma tribo de índios, eram garotos pelados e molhados pulando de uma pedra a outra para se secar já que não usávamos e nem sabíamos o que era toalha de banho. Inclusive falando em índios, as crianças índias são chamados de “Curumins” e nós éramos comumente chamados pelos adultos e por nós mesmos de “bando de Culumins”, talvez por que não sabíamos a pronuncia correta. Mas finalmente chegado ao final dessa maravilha de banho; entre as mais variadas conversas de crianças e pulos de pedra em pedra não havíamos esquecido de planejar a próxima atividade da tarde em outra parte do sitio. Para alegria das meninas que agora muitas vezes com suas mães, que também iam pra lavar roupas, tinham a bica só pra elas. Todavia não podiam esquecer que os homens que estavam trabalhando nos roçados, a partir das 16:30h começavam a chegar em suas casas e não mais que trinta minutos depois eram os donos absolutos da bica a partir daquele horário.
E de novo, haja homens pelados pra todo lado! Que embora demorassem menos no banho, era o lugar aonde colocavam em dia os assuntos das lavouras, animais, quem tava namorando quem entre rapazes e moças do lugar, famílias...Etc. Bom, mas como nosso “grupo de garotos não se interessava nem um pouco por esses assuntos e já tínhamos tomado nosso excelente banho mesmo, partíamos mesmo era pra mais aventuras. E uma das pré-diletas era a caçada aos passarinhos, armados de baladeiras nós íamos mata adentro escalando pedras, montanhas e precipícios. As vezes, em caçadas até muito bem sucedidas e muitas outras, um simples chororó pulando de galho em galho nos fazia entra centenas de metros em matas praticamente virgens. E na maioria das vezes quando percebíamos que já estávamos muito longe de casa, voltávamos frustrados, apenas com o som do cântico do chororó no ouvido e o pássaro que era bom, mais uma vez tinha nos driblado. Pelo menos por aquele dia pois possivelmente no dia seguinte estávamos na cola dele novamente. Mas, como o nosso dia já estava por volta das quatro horas da tarde, era hora do lanche e com excelente qualidade pois era a base frutas como: Mangas, Abacates, laranjas, bananas, jacas, cajús e muitas outras frutas que nem precisávamos subir nos pés, pois as frutas caiam de madura, mas como quase sempre o que é mais difícil tem um sabor melhor; gostávamos mesmo era de desafiar a lei da gravidade, subindo em jaqueiras com mais de trinta metros de altura para assim, podermos saborear as suas deliciosas jacas moles que apoiadas nos galhos da gigantesca arvore, comíamos alí mesmo nas alturas.
Isto é, nós os garotos maiores. Pois os menores que ainda não conseguiam escalar o pé de jacas, ficavam em baixo implorando alguns bagres. Bom, mas como as jacas deixavam nas mãos e bocas um grude que só saia quando lavávamos com querosene, o mesmo que era usado para a nossa iluminação nas lamparinas e só tinha em casa, era então hora de voltarmos ao lar doce lar. E essa volta ficava ainda mais gostosa quando conseguíamos alguns jegues que levavam de uma só vez quatro ou cinco garotos que sentavam no “Bicho” no “osso” sem cabresto sem nada! E até alguns tombos que tomávamos era tudo uma festa só! Pensa que o dia acabou? Nada. Era tardinha e era hora de fechar o claro do dia, com o jogo de bola no terreiro da nossa casa. E quando tínhamos uma bola de verdade, Tudo bem, mas quando não, fazíamos de palha de milho, mas a brincadeira tava garantida!Mas como depois de um dia vem uma noite... E inclusive por nossas casas estarem localizadas entre as serras, ela chegava muito mais cedo para nós, e logo ouvíamos nossas mães nos chamando para jantar. E se você estiver pensando que depois do jantar havia encerrado nosso dia; caro amigo você precisa ainda ouvir o seguinte: Das seis casas que havia no nosso lugar, quase sempre acontecia de cinco ficarem vazias enquanto todos iam para a casa do meu avô, que era a maior casa, aliás, era uma grande e bela casa com sua construção de grandes tijolos de barro sobre alicerces de pedras e tinha o telhado sustentado por grandes colunas de “aroeira” e também tinha um grande alpendre com peitoris que ficavam cheios de gente como: Trabalhadores dos roçados, agregados do meu avô que sempre faziam parte do lugar, tinha também gente que vinha de lugarejos vizinhos. Aliás, falando nisso, lembro-me de quando meu avô comprou um Rádio, objeto até então desconhecido para a maioria das pessoas da nossa região, até porque custava muito caro, tanto compra-lo, quanto mante-lo, pois se ouvia muito falar que o rádio era bom, mas “comia” muita pilha. Bom, mas mesmo assim, meu avô que sempre gostava de ouvir musicas comprou um que era muito grande, aliás, um bonito móvel feito de madeira, usava 8 pilhas grandes e era da marca “Canarinho a voz de ouro”. Que talvez tenha sido lançado em homenagem à copa de 70. Mas, ainda falando sobre esse rádio, que ao mesmo tempo em que nos trazia noticias, virava noticia na boca de todos que moravam na região, atraindo um público grande de pessoas que vinha à noite pra casa do meu avô só para ouvir o rádio “falar e cantar” sintonizado na Rádio Tupinambá de Sobral. Ficavam todos atentos! Mas o caso mais engraçado que ocorreu foi um dia a minha tia olhando pelos buracos que tinha na parte traseira do rádio para ver se via as pessoas falando!
Bom, mas nós as crianças, embora apreciássemos o rádio também, não tínhamos muita paciência de ficar parados, e ficávamos brincando de "esconde-esconde" e muitas outras brincadeiras. Isso quando não ouvíamos alguém dizer que tinha visto um "Saruê" n'um cajueiro! Porque aí, nós íamos atrás dele e não muito tempo depois; nós estávamos fazendo um churrasco dele!
Mas enfim, não mais que 22:00hs, nossos pais nos "convocavam" para irmos pra casa pois a gostosa rede nos esperava e era hora de dormir, pra no dia seguinte, começar tudo de novo!!!
E assim, terminava apenas mais um dia no nosso "Lugarzinho no meio do nada!" Ou sería no meio do "tudo?"
Aguarde o Capitulo II

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